sexta-feira, 25 de março de 2016

Está Faltando Amor no Mundo e Não É Força de Expressão



Pobre amor tão censurado, sofreu tanto entre grilhões que não sabe viver solto.

Aconteceu num inverno da época arcaica romana. Em meio as novas leis, alguém ergueu a mão e disse o que era ou não amor, e que o estado era deveras carente de atenção, de forma que as relações que deveríamos nos preocupar eram as de direitos e deveres.

Imagino que foi num inverno porque ninguém se afastaria do amor no verão, primavera ou outono, em que o ambiente é propício, florido, favorável e fértil. E deve ter sido mesmo em Roma, já que a Grécia era mais livre, amorosa e não queria ser o centro do mundo.

Na Grécia o amor era dividido ao menos em seis formas, sem uma relação de hierarquia entre elas:

Eros – Amor romântico, não necessariamente associado ao sexo, ou mesmo a concretização do romance. Era o alvo dos filósofos, a busca de Psique (Alma) por seu amado Eros (Espirito);

Philos – É o amor de amigos, companheiros, família, comunidade, que remete a lealdade e respeito;

Ágape – O amor altruísta, despretensioso, que se basta, que vê o bem do outro acima das próprias necessidades e egoísmos;

Ludus – O jogo do amor, da sedução, dos relacionamentos, daqueles diálogos calientes e dos flertes, que tanto nos faz falta quando um relacionamento “amorna”;

Pragma – É o amor maduro, consciente, que não exige perfeição e euforia. É o amor Cotidiano (Chico Buarque), ou da Linha e o Linho (Gilberto Gil);

Philautia – O auto amor, o amor próprio, que pode sim levar ao narcisismo, mas que na dose certa eleva nosso autoconhecimento, e nos educa na medida em que nos afasta de relacionamentos vampíricos em que tentamos sugar a luminosidade do outro para suprir nossas carências.

Limitar o amor aos casais e ao núcleo familiar é diminuir o valor dos demais relacionamentos. É prender sobre grilhões e ofuscar sentimentos que anseiam por liberdade e evidência.

Quem disse que só podemos ter um amor por vez? Ou que devemos viver para o outro? E que as coisas são “assim” e só “assim” que funcionam? Quem nos conduziu a estas limitações de Admirável Mundo Novo (livro de Aldous Huxley)?

Reconhecendo a amplitude e aspectos do amor, podemos nos educar de forma a identificarmos o real valor de nossos relacionamentos e amizades. Saberemos dosar a expectativa que depositamos no outro, de forma a não se frustrar quando não recebemos o que gostaríamos.

A educação do amor, das emoções, é essencial para aprendermos a lidar com a finitude, com o efêmero e o amor próprio – philautia – nos dá a consciência necessária para não construirmos nosso alicerce em bases alheias, de forma que se um dia o outro se for nós não iremos desmoronar e perder o significado de quem somos. Também é philautia que nos dá a motivação de nos afastarmos de relacionamentos perniciosos, do tipo que nos degrada, nos diminui, e limita nosso potencial.

Entendendo o amor, saberemos que ele não requer a presença física do outro, de forma que não é porque “nos amamos” que “precisamos ficar juntos”, nos tornando aptos a quando necessário dizer: “Eu te amo, quero o seu bem, mas nosso convívio é pernicioso e separados teremos maior chance de encontrar a felicidade”.

Da mesma forma, a consciência de Ludus nos afasta do marasmo, da rotina, nos mantêm vivos, e Pragma nos dá a compreensão de que a expressão do amor pode estar no simples, nas ações cotidianas que muitas vezes passam a ser vistas como obrigação, sendo que sob a ótica amorosa veremos declarações de amor diárias em cada ato que nos é dedicado.

Ou seja, é tudo verdade... Falta Amor No Mundo! Mas sobram oportunidades de nos permitirmos amar, e o Amor Livre existe(!) e não tem a ver com a promiscuidade como os conservadores apregoaram.

A prática leve a perfeição. Pratiquem o amor, quebrem os grilhões, e sejam felizes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

*--*