terça-feira, 4 de outubro de 2016

Apeirokalia: Falta de amor ao bom, belo e verdadeiro

Apeirokalia: Falta de vivências das coisas mais belas; Falta de amor ao bom, belo e verdadeiro.

A educação grega consistia em ensinar as pessoas a apreciar o belo e o verdadeiro, sem a concepção moderna e politicamente correta de que beleza e verdade são relativas.

A beleza se expressa através da harmonia, decoro, ordem, simetria, etc.

O feio é o oposto do belo, mas pode ter valor igual ou maior se considerarmos o poder de sua expressividade e capacidade de escancarar as coisas como ela são, vide *Van Gogh, Picasso, as pinturas de Da Vinci. Mas os artistas que retrataram o feio tinham pleno conhecimento do belo e optaram por abrir mão dele para expressar algo que julgavam ser de maior utilidade para os que contemplariam suas obras, de forma que podemos estabelecer uma diferenciação entre o feio pela ausência da beleza, e o feio pela instigação da reflexão.
*Resultado de imagem para van gogh italianaResultado de imagem para picasso obrashttp://www.drawingsofleonardo.org/images/studyforlastsupper.jpg



Diante do belo nos tornamos expectadores, sendo que a contemplação não satisfaz, e o recorte da beleza nos aspectos sensoriais não se sustenta. Por isso a ânsia não passa, de forma que a busca pela beleza e pelo gozo nos mantêm em constante movimento e deve findar na busca pela beleza real que transcende as formas e conduz a beatitude, o estado de plena satisfação.

O amor que podemos ter pela beleza sensorial é um amor com limites. O amor pela beleza real é o amor sem limites.

O trabalho é árduo, mas não precisamos começar do zero e sim buscar os cânones, a sistematização feita pelos que vieram antes de nós. Resgatar os cânones educa. Identificar o que de melhor já foi feito, elevando nosso senso estético e crítico para o reconhecimento da beleza, inclusive quando esta transcende os padrões temporais e culturais.

A palavra “Arte” vem do latim e significa “Técnica”. O artista deve dominar a técnica através da educação, sendo este um processo individual e autônomo, que pode ser auxiliado pela família e pelo estado.

Sabe mais aquele que mais viu. Se a única ferramenta que se tem é um martelo, há de se querer tratar tudo como prego. Se o parâmetros são limitados, os julgamentos também serão.

Se quer uma vida bela, boa e verdadeira, ame a beleza, a bondade e a verdade. E vá atrás do que ama. Galgue, cresça, evolua, estude, eduque-se.

E para que serve a beleza? Para te fazer suportar a vida.

Você não é especial. Não é uma pessoa maravilhosa. Conhece-te a ti mesmo, e quando terminar busque consolo na arte e na beleza.

A beleza é um suspiro, um consolo, um gozo, à dramaticidade da vida. Sem ela estaríamos perdidos, ou, no sentido religioso, condenados.

Referência: Professor Tiago Amorin - “A Beleza e Sua Importancia”

Complemento: Documentário “Porque a Beleza Importa”, de Roger Scruton


sexta-feira, 25 de março de 2016

Está Faltando Amor no Mundo e Não É Força de Expressão



Pobre amor tão censurado, sofreu tanto entre grilhões que não sabe viver solto.

Aconteceu num inverno da época arcaica romana. Em meio as novas leis, alguém ergueu a mão e disse o que era ou não amor, e que o estado era deveras carente de atenção, de forma que as relações que deveríamos nos preocupar eram as de direitos e deveres.

Imagino que foi num inverno porque ninguém se afastaria do amor no verão, primavera ou outono, em que o ambiente é propício, florido, favorável e fértil. E deve ter sido mesmo em Roma, já que a Grécia era mais livre, amorosa e não queria ser o centro do mundo.

Na Grécia o amor era dividido ao menos em seis formas, sem uma relação de hierarquia entre elas:

Eros – Amor romântico, não necessariamente associado ao sexo, ou mesmo a concretização do romance. Era o alvo dos filósofos, a busca de Psique (Alma) por seu amado Eros (Espirito);

Philos – É o amor de amigos, companheiros, família, comunidade, que remete a lealdade e respeito;

Ágape – O amor altruísta, despretensioso, que se basta, que vê o bem do outro acima das próprias necessidades e egoísmos;

Ludus – O jogo do amor, da sedução, dos relacionamentos, daqueles diálogos calientes e dos flertes, que tanto nos faz falta quando um relacionamento “amorna”;

Pragma – É o amor maduro, consciente, que não exige perfeição e euforia. É o amor Cotidiano (Chico Buarque), ou da Linha e o Linho (Gilberto Gil);

Philautia – O auto amor, o amor próprio, que pode sim levar ao narcisismo, mas que na dose certa eleva nosso autoconhecimento, e nos educa na medida em que nos afasta de relacionamentos vampíricos em que tentamos sugar a luminosidade do outro para suprir nossas carências.

Limitar o amor aos casais e ao núcleo familiar é diminuir o valor dos demais relacionamentos. É prender sobre grilhões e ofuscar sentimentos que anseiam por liberdade e evidência.

Quem disse que só podemos ter um amor por vez? Ou que devemos viver para o outro? E que as coisas são “assim” e só “assim” que funcionam? Quem nos conduziu a estas limitações de Admirável Mundo Novo (livro de Aldous Huxley)?

Reconhecendo a amplitude e aspectos do amor, podemos nos educar de forma a identificarmos o real valor de nossos relacionamentos e amizades. Saberemos dosar a expectativa que depositamos no outro, de forma a não se frustrar quando não recebemos o que gostaríamos.

A educação do amor, das emoções, é essencial para aprendermos a lidar com a finitude, com o efêmero e o amor próprio – philautia – nos dá a consciência necessária para não construirmos nosso alicerce em bases alheias, de forma que se um dia o outro se for nós não iremos desmoronar e perder o significado de quem somos. Também é philautia que nos dá a motivação de nos afastarmos de relacionamentos perniciosos, do tipo que nos degrada, nos diminui, e limita nosso potencial.

Entendendo o amor, saberemos que ele não requer a presença física do outro, de forma que não é porque “nos amamos” que “precisamos ficar juntos”, nos tornando aptos a quando necessário dizer: “Eu te amo, quero o seu bem, mas nosso convívio é pernicioso e separados teremos maior chance de encontrar a felicidade”.

Da mesma forma, a consciência de Ludus nos afasta do marasmo, da rotina, nos mantêm vivos, e Pragma nos dá a compreensão de que a expressão do amor pode estar no simples, nas ações cotidianas que muitas vezes passam a ser vistas como obrigação, sendo que sob a ótica amorosa veremos declarações de amor diárias em cada ato que nos é dedicado.

Ou seja, é tudo verdade... Falta Amor No Mundo! Mas sobram oportunidades de nos permitirmos amar, e o Amor Livre existe(!) e não tem a ver com a promiscuidade como os conservadores apregoaram.

A prática leve a perfeição. Pratiquem o amor, quebrem os grilhões, e sejam felizes.