domingo, 8 de janeiro de 2012

Slow Food e o Sincretismo Religioso



                Um efeito, talvez colateral, da calda longa é o surgimento de pessoas com elevado conhecimento de elementos diversos, porém com profundidade reduzida por ser obtido via pesquisas superficiais ou marketing digital, e que tem como ápice a subversão de doutores Philosophiæ e Honoris causa, em prol do “Google causa”, ou seja, pessoa que dedica seus “esforços” numa pesquisa na internet e apresenta em cinco minutos suas conclusões aprovando ou contestando determinada informação obtida como fruto de uma motivação surgida normalmente numa pesquisa cientifica mesa de bar ou atualização no facebook.

                Em meio a tal época, qualquer tarefa que demande tempo, dedicação e amor tornam-se hercúleas: correr, pintar, cozinhar, criar filhos, escrever, etc.. E aí surge o Slow Food.

                O Slow Food é um movimento mundial da área gastronômica que leva em si uma proposta de desaceleração e envolvimento com cada momento, assim como apregoado na filosofia Zen Budista, e que infelizmente é algo distante da realidade da maioria das pessoas, incluindo os orientais. Em sua concepção, o Slow Food defende não o prazer hedonista em cada refeição, mas sim o desfrute do momento, com o contato e respeito devido à alimentação, com moderação ao invés do exagero, configurando assim o que podemos associar ao prazer epicurista que tem como sede da ação a vontade e a razão.

            Moderação, vontade e razão.

É importante destacar que a razão grega transcende a lógica e beira beatitude (estado de bem estar) por ser um atributo da quintessência(!)  humana que é a monoda, a centelha do Logos no homem, e que cabe a cada um buscar e caberia aos que encontraram auxiliar, sendo que estes últimos seriam os chamados pontífices (construtores de pontes), barqueiros (que auxiliam na travessia), pastores ou govindas (os condutores de gado), mas como todos estes hoje se perderam em meio a aplausos e dízimos, e transformaram o meio em fim, e suas escolas em palcos, cabe a cada um de nós buscar seu modo de se desvencilhar dos grilhões de Prometeu acorrentado no Cáucaso.

É neste ponto que surge o problema.

Na arvore da vida todos galhos possuem valor, e no tronco encontramos a origem de todos os valores em forma de símbolos. Se uma ação vale mais do que mil palavras, um símbolo vale mais do que mil ações, pois ele leva em si valores que transcendem a forma. Para quem gostou nas analogias dos posts anteriores sobre música (1. ,  2.), aí vai mais uma: A ação se relaciona com o ritmo (corpo), as palavras com a melodia (alma), e os símbolos com a harmonia (espirito), e se hoje as ações tem maior valor que os símbolos é porque a interpretação dos mesmos se perderam.

E tal qual a harmonia numa sinfonia, alcançar o significado de um símbolo exige tempo, dedicação, moderação, vontade, amor e razão, e todos estes atributos devem ser obtidos com educação, prática, humildade, sem pressa e sem a necessidade de provar algo para alguém, vencer disputas retóricas ou massagear o ego.

Mas como em toda arvore, nem todos os galhos dão frutos, nem todos levam ao topo, e, absolutamente nenhum tem a visão de todos os outros, e por isso devemos ter a humildade de voltarmos para o tronco quando chegar a hora, e lá buscarmos um outro ramo que nos leve mais próximo da copa, do céu e do sol.

Antes de ser, muitos dirão que são.


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