domingo, 28 de abril de 2013

Aprender a Viver



                Em meio ao dinamismo atual uma perene sensação de urgência passou a permear nossa rotina e, mesmo quando desnecessário, lá estamos nós caminhando rapidamente,  trabalhando rapidamente, com  ombros tensos e semblante sisudo, em meio a uma atividade que precisa ser concluída antes do prazo para que a seguinte seja iniciada. E é essa rotina que com o passar dos anos nos molda e nos define.

                Nossa cultura urbana e burguesa, fundamentada no iluminismo europeu e fortalecida durante a revolução industrial, enalteceu por séculos o oficio em detrimento do demais aspectos vida, e apenas recentemente, quando os novos ofícios – que afastam o trabalhador do resultado do seu trabalho – dificultaram em alto grau o saciamento das ansiedades foi que a humanidade relembrou e reergueu a bandeira da qualidade de vida, velha conhecida de antigas culturas orientais e ameríndias.

                Porém, em meio a este contexto, a bandeira da qualidade da vida está sendo proposta apenas para preencher lacunas de nossa rotina, ocupando espaços cada vez mais raros em meio à necessidade de informação, consumismo, combate ao sedentarismo e vivencia virtual.

                Este cenário transitório tem caráter corretivo.

                Nossa atual sociedade mantém como regular, padrão, a preparação do cidadão em instituições de ensino em média por 15 anos para entendê-lo como apto a ser produtivo durante as quarenta horas semanais que serão dedicadas ao seu oficio. Ou seja, nos preparamos por pelo menos 15 anos com ensinamentos voltados, principalmente, a um terço das nossas vidas.

                Se o texto terminasse por aqui, o título dele seria Admirável mundo novo, vide Aldous Huxley. 

                É preciso ampliar a proposta atual de qualidade de vida.

                Um bom amigo me questionou recentemente a utilidade das minhas cartas de tarô que tenho em lugar de destaque em minha sala. Fui bem claro: não, não sei ler o futuro. Expliquei que o tarô ali tem função similar as centenas de livros na minha estante e das poucas revistas playboy na minha mesa: Aprender a viver.

                Viver consciente é viver “com ciência”, com conhecimento. Se dedicamos tanto estudo para vivenciarmos nosso oficio, porque temos a tendência a acreditar que a vida pode ser aprendida simplesmente praticando?

   Sem muito esforço é possível achar publicações que ensinam como lavar o seu carro, ou como andar de bicicleta, colecionar moedas, relógios, bordar guardanapos, usar um smartphone etc.. Se vale a pena escrever e ler sobre estes elementos que para a maioria das pessoas tem pouca representatividade, porque dedicar-se ao estudo da vida parece apenas mais uma simples tendência da moda? Já ouvi dezenas de argumentos:
- “Religião não vale a pena estudar porque cada uma diz uma coisa e todas alegam estar certas”;
 - “Filosofia não vou estudar porque parece que é muito conteúdo para pouca utilidade e dá pra viver quase igual sabendo ou não sabendo filosofia”;
- “Yoga é muito abstrato, ou yoga é uma ginástica estafante”;
- “Teosofia é muito complexa, quase uma faculdade”;

Os fatos sociais (Durkheim, indução de elementos sociais exteriores no individuo) muitas vezes parecem uma bruxaria digna do Flautista de Hamelin, capaz de nos conduzir por caminhos árduos como a realização do oficio, com seu digníssimo e nobre valor naturalmente, mas que em paralelo nos afasta de tarefas que as vezes são até mais brandas, como o estudo da vida.

Livros como o “Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder” afugenta leitores que muitas vezes dominaram “Calculo 1 e 2, de James Stewart”, ou “MS Framework Fundation, da Microsoft”, ou ainda “Teoria Geral da Administração, de Peter Drucker”.

Fomos condicionados a isso, somos capazes de dedicar cinco anos de estudo em período integral para sermos engenheiros, médicos, contadores etc. , mas se ao dedicarmos uma semana de pesquisa no Google a uma religião/filosofia não entendermos completamente a proposta ou acharmos criticas vamos nos afastar dela porque “não faz sentido” ou “não vale a pena”.

Aceitamos a proposta para passar cinco anos numa faculdade sem sabermos para que serve limites e derivadas, ou qual a importância de um telômero, e onde usaríamos classes abstratas e herança, mas nós jamais aceitaríamos começar a vivenciar uma religião ou filosofia sem que antes saibamos cada pequeno detalhe dela, sendo que se a explicação levar mais de seis meses, é certeza que estamos fora dessa.

Nem tudo que vale a pena é extenso, mas algumas coisas são. A peça de teatro que assistimos em duas horas exigiu meses para ficar pronta. A beleza de uma cerimônia de casamento que parece impecavelmente serena teve por trás uma grande correria, tensão, suor, e até discussões (sim, discussões, stress, conflitos, desentendimentos) que só quem passou por isso sabe.
            
             Veja bem, se dedicamos quinze ou vinte anos de estudo para vivenciarmos um terço de nossa vida, quanto tempo de dedicação merece a nossa vida como um todo?
             
             Esta lógica é ampla. Por exemplo, dedicamos anos para virarmos professor, mas por quantos anos nos preparamos para ser pais? Ou ser pai e mãe não requer preparo porque sempre dá “certo” aprender com a prática?
                
              E os relacionamentos? Também não adianta nos prepararmos?
                
              Dizer que não adianta preparo porque só aprendemos na prática é uma hipocrisia. Nós estudamos etiqueta, moda, biologia, engenharia, culinária e centenas de ofícios que os próprios professores deixam absolutamente claro que só firmaremos o conhecimento com a prática, vide os estágios obrigatórios, e nem por isso desabonamos tais cursos, muito pelo contrário, é obrigatório a teoria até mesmo para começar um estágio.
              
               Viver consciente é viver com ciência.
               
               Fica a dica #DediqueMaisTempo , #AprendaAviver.