Em meio
ao dinamismo atual uma perene sensação de urgência passou a permear nossa
rotina e, mesmo quando desnecessário, lá estamos nós caminhando rapidamente, trabalhando rapidamente, com ombros tensos
e semblante sisudo, em meio a uma
atividade que precisa ser concluída antes do prazo para que a seguinte seja
iniciada. E é essa rotina que com o passar dos anos nos molda e nos define.
Nossa
cultura urbana e burguesa, fundamentada no iluminismo europeu e fortalecida durante a revolução industrial, enalteceu por séculos o oficio em
detrimento do demais aspectos vida, e apenas recentemente, quando os novos ofícios – que afastam
o trabalhador do resultado do seu trabalho – dificultaram em alto grau o saciamento
das ansiedades foi que a humanidade relembrou e reergueu a bandeira da qualidade
de vida, velha conhecida de antigas culturas orientais e ameríndias.
Porém, em
meio a este contexto, a bandeira da qualidade da vida está sendo proposta
apenas para preencher lacunas de nossa rotina, ocupando espaços cada vez mais
raros em meio à necessidade de informação, consumismo, combate ao sedentarismo
e vivencia virtual.
Este
cenário transitório tem caráter corretivo.
Nossa
atual sociedade mantém como regular, padrão, a preparação do cidadão em
instituições de ensino em média por 15 anos para entendê-lo como apto a ser
produtivo durante as quarenta horas semanais que serão dedicadas ao seu oficio.
Ou seja, nos preparamos por pelo menos 15 anos com ensinamentos voltados,
principalmente, a um terço das nossas vidas.
Se o
texto terminasse por aqui, o título dele seria Admirável mundo novo, vide Aldous Huxley.
É preciso
ampliar a proposta atual de qualidade de vida.
Um bom amigo
me questionou recentemente a utilidade das minhas cartas de tarô que tenho em
lugar de destaque em minha sala. Fui bem claro: não, não sei ler o futuro.
Expliquei que o tarô ali tem função similar as centenas de livros na minha
estante e das poucas revistas playboy na minha mesa: Aprender a viver.
Viver
consciente é viver “com ciência”, com conhecimento. Se dedicamos tanto estudo para
vivenciarmos nosso oficio, porque temos a tendência a acreditar que a vida pode
ser aprendida simplesmente praticando?
Sem muito esforço é possível
achar publicações que ensinam como lavar o seu carro, ou como andar de
bicicleta, colecionar moedas, relógios, bordar guardanapos, usar um smartphone
etc.. Se vale a pena escrever e ler sobre estes elementos que para a maioria das
pessoas tem pouca representatividade, porque dedicar-se ao estudo da vida
parece apenas mais uma simples tendência da moda? Já ouvi dezenas de argumentos:
- “Religião não vale a pena
estudar porque cada uma diz uma coisa e todas alegam estar certas”;
- “Filosofia não vou estudar porque parece que é muito conteúdo para pouca utilidade e dá pra viver quase igual sabendo ou não sabendo filosofia”;
- “Filosofia não vou estudar porque parece que é muito conteúdo para pouca utilidade e dá pra viver quase igual sabendo ou não sabendo filosofia”;
- “Yoga é muito abstrato, ou yoga
é uma ginástica estafante”;
- “Teosofia é muito complexa, quase
uma faculdade”;
Os fatos sociais (Durkheim,
indução de elementos sociais exteriores no individuo) muitas vezes parecem uma
bruxaria digna do Flautista de
Hamelin, capaz de nos conduzir por caminhos árduos como a realização do oficio,
com seu digníssimo e nobre valor naturalmente, mas que em paralelo nos afasta
de tarefas que as vezes são até mais brandas, como o estudo da vida.
Livros como o “Mundo de Sofia, de
Jostein Gaarder” afugenta
leitores que muitas vezes dominaram “Calculo 1 e 2, de James Stewart”, ou “MS
Framework Fundation, da Microsoft”, ou ainda “Teoria Geral da Administração, de Peter Drucker”.
Fomos condicionados a isso, somos capazes de dedicar cinco anos de estudo
em período integral para sermos engenheiros, médicos, contadores etc. , mas se ao
dedicarmos uma semana de pesquisa no Google a uma religião/filosofia não
entendermos completamente a proposta ou acharmos criticas vamos nos afastar
dela porque “não faz sentido” ou “não vale a pena”.
Aceitamos a proposta para passar cinco anos numa faculdade sem sabermos
para que serve limites e derivadas, ou qual a importância de um telômero, e
onde usaríamos classes abstratas e herança, mas nós jamais aceitaríamos começar
a vivenciar uma religião ou filosofia sem que antes saibamos cada pequeno
detalhe dela, sendo que se a explicação levar mais de seis meses, é certeza que
estamos fora dessa.
Nem tudo que vale a pena é extenso, mas algumas coisas são. A peça de
teatro que assistimos em duas horas exigiu meses para ficar pronta. A beleza de
uma cerimônia de casamento que parece impecavelmente serena teve por trás uma
grande correria, tensão, suor, e até discussões (sim, discussões, stress, conflitos,
desentendimentos) que só quem passou por isso sabe.
Veja
bem, se dedicamos quinze ou vinte anos de estudo para vivenciarmos um terço de
nossa vida, quanto tempo de dedicação merece a nossa vida como um todo?
Esta lógica
é ampla. Por exemplo, dedicamos anos para virarmos professor, mas por quantos anos
nos preparamos para ser pais? Ou ser pai e mãe não requer preparo porque sempre
dá “certo” aprender com a prática?
E os
relacionamentos? Também não adianta nos prepararmos?
Dizer
que não adianta preparo porque só aprendemos na prática é uma hipocrisia. Nós
estudamos etiqueta, moda, biologia, engenharia, culinária e centenas de ofícios
que os próprios professores deixam absolutamente claro que só firmaremos o
conhecimento com a prática, vide os estágios obrigatórios, e nem por isso desabonamos tais cursos, muito pelo contrário, é obrigatório a teoria até mesmo para começar um estágio.
Viver
consciente é viver com ciência.
Fica a
dica #DediqueMaisTempo , #AprendaAviver.